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Influência da Estabilização Central e Mobilidade Articular Sobre a Lombalgia
Embora ciclistas possam ser vulneráveis à ocorrência de lombalgia, existem poucas evidências de anormalidades radiográficas na maioria das disfunções lombares dolorosas, implicando em um diagnóstico de lombalgia crônica não específica (BURNETT et al., 2004). A sacroileíte, embora cause lombalgia, deve ser avaliada separadamente para um diagnóstico mais apropriado (SMURAWA, 2006).
A fraqueza da musculatura lombo-pélvica pode levar à fadiga precoce e lombalgia (MANNINEN; KALLINEN, 1996; SRINIVASAN; BALASUBRAMANIAN, 2007; WILLARDSON, 2007; AKUTHOTA et al., 2008) em ciclistas que realizam provas de longa distância como o Race Across America, quando o estresse imposto à musculatura estabilizadora da coluna lombar supera a capacidade de produção de força (GRIFFITHS-FABLE, 2006; ASPLUND; ROSS, 2010).
A região lombo-pélvica é uma zona de transição de forças entre os membros superiores e inferiores. O ciclista com boa estabilidade lombo-pélvica consegue transferir as forças produzidas pelos membros inferiores ao pedal com maior eficiência (USABIAGA et al., 1997; WILLARDSON, 2007; ASPLUND; ROSS, 2010), sem gerar perda de energia por desequilíbrio musculoesquelético e, consequentemente, sem sobrecarregar a coluna lombar (WILLARDSON, 2007). Além disso, o ciclista com bom condicionamento da musculatura lombo-pélvica pode suportar a postura aerodinâmica por mais tempo sem resultar em sensação de desconforto (ASPLUND; ROSS, 2010).
Asplund e Ross (2010) estabeleceram uma relação entre condicionamento da musculatura lombo-pélvica com a elevação do guidão, a partir de evidências baseadas na prática. Para os autores, o desempenho na manutenção na posição de plank (prancha) é um parâmetro para ponderar o ajuste da altura do guidão. O exercício de plank, citado por Asplund e Ross (2010), se resume em apoiar as pontas dos pés e o antebraço ao chão, mantendo o cotovelo e ombro fletidos a 90°.
Srinivasan e Balasubramanian (2007) realizaram um estudo com 14 ciclistas do sexo masculino (idade média de 25 ± 2 anos e massa corporal de 64 ± 8,9 kg) usuários de bicicleta de estrada. Os participantes foram divididos em dois grupos pareados, sendo que um dos grupos foi formado por ciclistas que apresentavam histórico de lombalgia sem relação com lesão prévia. Os músculos avaliados por meio da eletromiografia de superfície foram o bíceps braquial, trapézio (fibras mediais), grande dorsal (fibras mediais) e eretor da espinha, todos bilateralmente. A ativação muscular foi mensurada antes de pedalar, e após 15 e 30 minutos de pedalada. Os resultados revelaram diferenças significativas para a ativação muscular do trapézio e eretores da espinha direito do grupo com lombalgia comparado com o grupo sem lombalgia (controle). A interpretação dos resultados sugere maior fadiga dos músculos posteriores do tronco no grupo com lombalgia. A possibilidade de que o aumento na fadiga muscular possa agravar a dor lombar deve ser considerada a partir dos resultados deste estudo, de forma que a importância do fortalecimento da musculatura lombo-pélvica passe a ser salientada (ASPLUND; WEBB; BARKDUL, 2005; AKUTHOTA et al., 2008).
Hides, Richardson e Jull (1996) relatam casos dos músculos multífidos com hipotrofia em pessoas com lombalgia, músculo que para Burnett et al. (2004) apresenta função chave na estabilização da coluna lombar. De acordo com os autores, esta hipotrofia muscular pode ser resultado da contração muscular reflexa dos músculos paravertebrais induzida pela estimulação mecânica do complexo ligamentar posterior e da porção posterior do disco intervertebral quando o ciclista se encontra com tronco fletido. Como a postura de flexão de tronco é mantida por longos períodos durante a prática ciclística, a tendência é que os músculos que realizam a estabilização e extensão da coluna vertebral entrem em fadiga, diminuindo a resistência do atleta para a manutenção da postura (USABIAGA et al., 1997). Desta forma, o fortalecimento da musculatura lombo-pélvica e o alongamento de músculos dos membros inferiores ajuda a prevenir a ocorrência de disfunções lombares e aumenta o desempenho na prática esportiva (MELLION, 1994; ASPLUND; WEBB; BARKDULL, 2005).
Se a musculatura da cadeia posterior do tronco não está bem condicionada e inapta a manter a flexão de tronco (KRONISCH, 1998a; SCHWELLNUS; DERMAN, 2005; ASPLUND; WEBB; BARKDULL, 2005), a fadiga muscular e a tensão excessiva gerada podem resultar em dor (ASPLUND; WEBB; BARKDULL, 2005). Paralelamente, pedalar com marcha pesada ou em aclives por longo período pode fadigar precocemente o glúteo máximo e ísquios-tibiais (ASPLUND; WEBB; BARKDULL, 2005) promovendo uma anteroversão pélvica, aumentando a tensão sobre a musculatura lombar e resultando em dor lombar (ASPLUND; WEBB; BARKDULL, 2005). O posicionamento ântero-posterior da pelve é controlado pelo equilíbrio entre a musculatura lombo-pélvica (Figura 3) (MELLION, 1994).
Figura 1. Equilíbrio lombo-pélvico durante a pedalada. A semicircunferência em cinza representa a anteroversão e a preta a retroversão pélvica.
O quadríceps, especialmente o reto femoral e o íliopsoas atuando em elevada tensão, tende a realizar uma anteroversão da pelve (MELLION 1994; ASPLUND; WEBB; BARKDULL, 2005). Por outro lado, se os ísquios-tibiais estão tensos, a anteroversão pélvica é restringida, resultando em aumento da flexão da coluna lombar (MELLION, 1994; ASPLUND; WEBB; BARKDULL, 2005). Embora a flexão do tronco aumentada resulte em uma vantagem mecânica para os glúteos hiperestenderem a coluna lombar, esta postura associada à grande extensão do joelho no ciclo da pedalada eleva a tensão dos glúteos, que, consequentemente, tentam hiperestender a coluna lombar resultando em dor (SANNER; O’HALLORAN, 2000). Little e Mansoor (2010) relatam um caso de síndrome do estalido no quadril de um ciclista profissional de quarenta e oito anos. Esta disfunção foi descrita pelo ciclista durante avaliação, como um desconforto à flexo-extensão do quadril associado à lombalgia. De acordo com os autores tratava-se de um ressalto do tendão do músculo íliopsoas sobre a região óssea chamada eminência iliopectínea, na passagem da extensão para a flexão do joelho. Este ressalto é responsável por elevar à tensão do íliopsoas e aumentar o estresse na coluna lombar.
Fonte: Di Alencar TAM, Matias KFS, Bini RR, Carpes FP. Revisão Etiológica da Lombalgia em Ciclistas. Rev. Bras. Ciênc. Esporte, 2011; 33(2): 507-528.
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